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R7 Brasília

Ensino superior presencial tem menor número de formados em dez anos, mas EaD triplica

Segundo dados levantados pelo R7, modalidade presencial caiu de 840 mil para 783 mil estudantes formados

Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília

783.505 mil estudantes se formaram em 2023 no ensino presencial Divulgação/Agência Brasil

O número de estudantes formados no ensino superior presencial caiu para o menor índice nos últimos dez anos em 2023. De acordo com dados levantados pelo R7, com base no Censo Escolar do Ministério da Educação, a quantidade de alunos caiu de 840.728 em 2014 para 783.505 em 2023. Em contrapartida, no ensino a distância, o número de estudantes que conseguiram o diploma aumentou três vezes na última década: de 189.792 para 591.284.

Os dados levantados pela reportagem também mostram maior predominância do EaD nas instituições particulares. Os cursos com maior número de ingressantes são os bacharelados, seguido pelos tecnológicos e pela licenciatura. Nos três, o número de ingresso de alunos é superior na modalidade a distância (veja dados abaixo).

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Apesar disso, o Censo de Educação do Ensino Superior revela também que a quantidade de desistência é maior no EaD: 66% nos últimos dez anos, contra 58% no caso do ensino presencial. Juliane Stefani, de 30 anos, entende bem o que é fazer parte dessa estatística. A moradora de Santa Maria (DF) tem elogios ao EaD, mas teve dificuldades em concluir os cursos que ingressou. Juliane já iniciou o curso de recursos humanos na modalidade EaD e o curso de estética e outros voltados para a área de beleza. “O de RH era presencial, mas na pandemia ficou difícil porque ficou EaD e tinha bastante coisa para ler, que era a minha dificuldade. Então, eu só terminei o primeiro semestre. Os outros, mais básicos, com vídeos aulas, eu terminei todos”, diz.

A empresária, proprietária do Studio de Lash Designer, confessa que hoje prefere o presencial, “pois não temos distrações, nem sono, e consigo me concentrar melhor”.


Mais estudantes no EaD

Na avaliação do diretor-geral da ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior), Paulo Chanan, a mudança de perfil dos estudantes é natural. “Impulsionado principalmente pelos Decretos nº 9.235 e 9.057, ambos de 2017, que flexibilizaram as regras para a abertura de instituições e cursos a distância, além de facilitar a expansão de polos”, diz.

Para ele, a pandemia de Covid-19 acelerou esse processo ao generalizar o uso do modelo remoto, consolidando a educação a distância como uma alternativa viável para muitos estudantes, um cenário “impensável há poucos anos”.


Veja dados do Ensino Superior Luce Costa/Arte R7

Chanan, contudo, avalia os desafios de manter a qualidade da oferta desse ensino, “sobretudo diante da redução do valor médio das mensalidades”, o que compromete a sustentabilidade financeira das instituições.

Apesar disso, ela avalia que se o EaD mantiver o mesmo ritmo de crescimento dos últimos anos, o Censo da Educação Superior de 2024, que deve ser divulgado no segundo semestre deste ano, deve apresentar um ensino à distância predominante em relação ao ensino presencial.


A experiência do ensino a distância

Paulo conclui o ensino superior no EaD no fim deste semestre Arquivo Pessoal/Reprodução

Para o agente istrativo Paulo Rogério de Oliveira, 50 anos, o EaD tem permitido a continuidade dos seus estudos. Paulo mora em Jataí (GO) e cursa ciências contábeis. “Gosto muito do curso, para mim, a dinâmica é muito boa, tem muita facilidade porque eu tenho o às informações no conforto da minha casa, no meu tempo. É uma experiência ótima”, defende.

Para o estudante, outro ponto positivo é a possibilidade de conciliar a rotina de estudos à própria vida. “Eu não preciso enfrentar uma sala de aula das 7h às 11h, o que é muito difícil de cumprir para quem trabalha e tem família, por exemplo. Com o aplicativo posso ar o conteúdo na hora do almoço, no fim de noite, de madrugada, no fim de semana. Eu faço o meu horário”, explica.

Ele pondera, no entanto, os desafios da modalidade. “Acredito que é uma questão de busca própria: eu tenho que ar o portal e ir atrás do conteúdo, não tem ninguém monitorando, te pressionando. O desafio é dominar a si mesmo para a prática de estudar, fazer leituras, ar os arquivos, os artigos. Tudo está disponível de forma fácil, simples e operacional, mas eu tenho que me moldar a ir atrás”, pontua.

Veja dados do Censo do Ensino Superior Luce Costa/Arte R7

O agente istrativo acrescenta que outro atrativo é o custo benefício. “O que me fez buscar o curso EaD foi a questão dos valores, de ser mais ível as mensalidades. Esse foi o principal desafio, mas acabei descobrindo a facilidade de fazer o curso onde eu estiver”. Hoje, o estudante está no oitavo semestre e termina o curso superior em julho.

Desafios para o EaD

Segundo a diretora de Educação Superior da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), Rita Magalhães Amaral, o ensino EaD tem que se descolar “das práticas tradicionais do ensino presencial”.

“Não podemos aplicar as mesmas práticas pedagógicas em diferentes modalidades de educação, porém os desafios são muitos. E entre eles a necessidade de melhorar a supervisão dos cursos e das instituições de educação superior credenciadas para oferta de educação a distância de modo a evitar a perda de qualidade, e a meu ver em todos os cursos, mas de forma estratégia e assertiva com a formação de professores”, analisa.

Rita defende que as instituições de ensino superior EaD desenvolvam planos de gestão pedagógica dentro dos parâmetros de qualidade. “Com o grande crescimento de cursos à distância, há uma mudança significativa na qualidade do conteúdo ofertado, modelo de aprendizagem e e ao estudante. Ao nosso ver, garantir coesão e excelência em todos os cursos é um grande desafio”, declara.

Oportunidades

Ela detalha que o maior público de estudantes EaD são de pessoas mais velhas, que não tiveram a oportunidade de ingressar no ensino superior logo que terminaram o ensino médio. “A EaD proporciona muitas oportunidades, devido à facilidade de deslocamento, flexibilidade de horários, pois muitos possuem família e trabalham em horário incompatíveis para estudar no ensino presencial, sem contar no menor custo das mensalidades, o que torna a EaD uma oportunidade ível. Porém o acompanhamento junto aos alunos pelas instituições é de suma importância de forma a evitar a evasão”, defende.

Essa também é a opinião da professora do Departamento de Ciência da Computação da UnB (Universidade de Brasília) Letícia Lopes Leite. Para ela, a evasão é maior no EaD devido ao perfil dos estudantes. “Na EaD em específico, os estudantes têm um perfil diferenciado: são trabalhadores, estão há algum tempo afastados das salas de aula, têm família e moram afastados dos grandes centros, estes fatores contribuem de forma significativa para aumentar os índices de evasão dos cursos”, comenta.

Além disso, ela lembra que uma deficiência na formação básica também prejudica aqueles que chegam no ensino superior, seja ele presencial ou à distância. “O Brasil é um país de grandes diferenças sociais e isso tem impacto direto na educação. Estudantes que, embora tenham concluído o mesmo nível de ensino, apresentam níveis de formação e experiências educacionais muito distintas. Isso se reflete nos indicadores/avaliações educacionais e, também, nas aprovações para ingresso no ensino superior e, consequentemente, na avaliação dos cursos de graduação”, declara.

Ela detalha que quando o estudante ingressa na Universidade há “um problema enorme relacionado à falta de conhecimentos básicos (matemática, lógica, português…), demonstrando uma falha nos ensinos fundamental e médio”, o que os prejudicam na universidade.

“Esta situação pode levar à evasão dos estudantes que se sentem desmotivados e sobrecarregados, ou a transferir para as instituições de ensino superior a responsabilidade por recuperar estes conhecimentos necessários e que não foram apreendidos adequadamente”, pontua.

Por isso mesmo, segundo Rita Magalhães Amaral é preciso uma tutoria ativa e reativa. No primeiro modelo, o professor é proativo, se antecipa as necessidades do aluno, já no segundo, o " tutor oferece um e para tirar eventuais dúvidas e questionamentos dos estudantes".

Para Rita, o futuro é promissor para o ensino a distância, mas só vai acontecer se o EaD tiver mais qualidade, com parâmetros bem definidos, e avaliações e supervisões assertivas feitas pelo Ministério da Educação.

“Para que tudo isso possa acontecer será necessário a inovação na conexão de tecnologias emergentes como inteligência artificial, realidade virtual e aumentada, multimeios de aprendizagem, multirrecursos de investigação, novos softwares para união de conteúdos e resolução de problemas. Acreditamos que essas estratégias poderão possibilitar a educação brasileira desde que adotadas de forma assertiva irá atender as expectativas dos estudantes, e claro garantindo a qualidade de ensino”, disse.

Alto número de desistência

Para Letícia, nas duas modalidades, presencial e à distância, há muitos problemas que são semelhantes: perfil dos estudantes, impactos do uso da tecnologia, carências na educação básica, formação dos professores, infraestrutura das instituições e metodologias ultraadas.

“Enquanto pensarmos que são duas modalidades concorrentes, estaremos dividindo esforços que poderiam ser intensificados se pensássemos em educação de forma abrangente. O principal problema no Brasil é na educação como um todo. Não temos uma modalidade que é a vilã”, diz.

Segundo ela, essas são questões sobre as quais o poder público precisa se debruçar e estruturar políticas com objetivo de dar uma melhor sustentação para o ingresso e para a manutenção destes estudantes.

“Oferecer mais vagas em cursos EaD é importante, mas somente terá efeito com políticas que possam viabilizar sua manutenção e o aproveitamento dos cursos que eles fazem. Ainda, a infraestrutura e localização dos polos de EaD também são fatores que podem impactar a qualidade do ensino. Estas estruturas, muitas vezes precárias, são compartilhadas por diversas instituições, não têm identidade institucional, não têm atendimento especializado para os estudantes que, por sua vez, se sentem abandonados e desmotivados”, lamenta.

Letícia avalia que daqui a algum tempo essa discussão ficará para trás. “Penso que, futuramente, não teremos mais a discussão sobre a modalidade de ensino, mas sim sobre as práticas pedagógicas e metodologias que possam propiciar melhores experiências de aprendizagem, independente se todos estiverem no mesmo espaço físico ou não”, diz.

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